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Uma série de fotografias de um ambiente natural esconde do olhar desatento a presença de cenas e corpos projetados sobre a folhagem. Várias fotografias antigas da família de Pedro, material descoberto pelo artista após a morte de sua avó, foram digitalizadas e projetadas sobre o corpo de seu pai. A pele, pelos e poros iluminados pelas imagens reluzentes advindas do passado foram fotografados de perto, gerando imagens renovadas, prontas para serem novamente projetadas, dessa vez sobre uma paisagem natural. Durante o dia, percorrendo um ambiente de mata, rios e rochedos, Pedro capturou os momentos em que essas imagens revelavam-se discretas sobre a textura dos barrancos de terra e das copas das árvores, criando cenas em que as memórias e os acontecimentos da natureza se misturam. Em uma fantasmagoria de imagens feitas de luz, pele, luz novamente e, então, superfície do mundo, encontram-se índices de uma memória que se confundem com assombrações do espaço. Deparamo-nos com um lugar de difícil identificação, onde é quase impossível situar-se e encontrar-se – estamos perdidos por entre esta mata de lembranças.

Nesta série Safari, Pedro lida com fotografias do passado de sua família, que apresentam as histórias e os personagens que habitam a herança familiar do artista. É um material de memória indireta, feitas nas décadas de 50 e 60, na Itália. São pessoas e lugares com quem Pedro “nunca” teve contato. Ao mesmo tempo que encara esse passado, também enfrenta uma paisagem natural onde a passagem do tempo e a própria percepção espacial são de ordem distinta da dos espaços, superfícies e composições arquitetônicas recorrentes em seus trabalhos anteriores. É curiosa essa aproximação entre as fotografias antigas e a paisagem natural, duas searas que podem parecer distantes, de tempos e gêneses diversas. No entanto, esses dois elementos possuem certo vínculo para Pedro. Alguns de seus trabalhos anteriores já buscavam a aproximação entre o corpo e as paisagens urbanas. Ademais, é um interesse recorrente do artista lidar com a passagem do tempo em diferentes espaços – enquanto na paisagem urbana a deterioração pode ser contornada por processos de restauro e renovação, o envelhecimento do corpo é visível e estará sempre marcado, por mais que se tente contorná-lo. Por essa diferença sutil, Pedro identificou na natureza um processo de envelhecimento mais próximo ao do corpo, e mais distante da paisagem urbana.

Safari é uma intervenção que emula casos particulares de transformação da natureza em um espaço habitável pelo homem. Numa mistura de natureza morta e retrato, a série recombina as maneiras como pensamos a fotografia, a paisagem, o registro e a memória.

 

Paulo Miyada